24.4.08

Deleite

Recebi anteontem o tão ansiado “Livre noir de la Revolution française”. Confesso que nem sei que dizer, estou deslumbrado com o livro e só desejo o mais rapidamente possível mostra-lo aos meus famosos 2 amigos. É simultaneamente um livro grande (880 páginas) e um grande livro (por aquilo que pude ler por alto de alguns artigos) nele tendo participado cerca de 50 colaboradores. O livro está dividido em três partes: I: Os factos (25 capítulos), II: O génio (20 capítulos) e, por fim, III: Antologia (11 capítulos). Este livro seguindo a onda do “Livre noir du communisme” (aliás um dos autores e organizadores deste último, Stéphane Courtois, também aqui participa) dará, tal como este último um forte contributo para desfazer o mito fundador, da França moderna, da esquerda e da direita liberal, que são no fundo amigas/inimigas. Ignoro que tipo de reacções o livro suscitou até agora em França. Sei, no entanto, que no caso do “Livre noir du communisme”, há 11 anos, as reacções foram duma virulência inaudita por entre o “esquerdalho” que se sentiu interpelado na sua conivência com esse monstruoso crime que foi o comunismo onde quer que ele se instalou. Para que vejamos como a esquerda se mantém fiel a si própria pensemos naquilo que se passou no parlamento a propósito da votação da moção de pesar pela morte do Rei D. Carlos. Até agora li apenas parte do capítulo II, da I Parte, sobre o 14 de Julho, onde se conta com todo o rigor o que se passou e como a Bastilha, comandada por Launay, se rendeu perante a promessa de que a sua guarnição, e ele próprio não sofreriam quaisquer represálias. Sabemos bem o que se passou, Launay foi morto no “Hôtel de Ville” a golpes de sabre, e decapitado por um ajudante de cozinha, Desnot, sendo posteriormente a sua cabeça passeada por Paris na ponta de um pau, não sem antes o seu sangue ter sido bebido pela turba multa. Segundo nos diz o professor Jean Tulard (um dos colaboradores do livro) tratou-se de um (e passo a citar no original) “Acte d’un goût douteux, mais qui va se généraliser dans les années suivantes et devenir une forme de “civilité” révolutionaire pour les victimes de marque”. Qualquer semelhança entre estes monstros e aqueles que vão ao cemitério do Alto de S. João dar vivas aos regicidas, ou os que organizam festas em Castro Verde em sua honra, ou os que festejam o 5 de Outubro, é pura coincidência!
De momento é tudo o que posso contar sobre este fabuloso livro, indispensável na biblioteca de qualquer monárquico, mas à medida que o for lendo escreverei mais alguns posts sobre aqulio que mais me vai interpelando.

21.4.08

Heresia de betão

Tive há alguns dias a possibilidade de visitar a Igreja da Santíssima Trindade de Fátima, a tal a que o amigo Gazeta chama com grande propriedade a “ETAR”. Aliás minha visita a este local confirma plenamente o post “A Fé é uma arte” (desculpa, Gazeta, mas não sei fazer links estou a precisar de mais aulas). Foi pois com um misto de curiosidade e de receio que entrei naquele espaço. Curiosidade porque por tudo o que tenho lido e visto sobre a dita Igreja queria ter a minha própria opinião, e receio porque naturalmente esperava o pior, tanto mais que tendo acompanhado com regularidade a sua construção fui vendo surgir do chão aquilo que era suposto ser uma “Igreja subterrânea” mas que na realidade apenas o é em parte tendo em conta a sua altura. Aliás foi essa mesma altura que veio obstruir completamente a bonita perspectiva que antes se tinha da Basílica quando se passava na avenida principal (D. José Alves Correia da Silva). A visita desta “igreja” foi para mim triste e deprimente e confirma plenamente todos os meus receios. Entrar num espaço que pretende ser uma igreja e que na realidade mais não parece ser do que uma bela sala de congressos, sem sacrário, e com um palco, é algo de indescritível. Só então compreendi porque é que entrei por ali adentro sem sentir necessidade de me benzer como habitualmente ao entrar numa verdadeira igreja. Aquele templo é o reflexo de uma Igreja “desvitalizada”, repleta de antropocentrismo, fruto da sua tentativa de se adaptar ao mundo moderno, o que é naturalmente uma forma de suicídio. Mas o “climax” da visita foi a visão sinistra daquele “Cristo” com um olhar esgazeado, ou “janado” (que Deus me perdoe!), despenteado e a olhar para o vazio. Onde está a expressão de sofrimento dAquele que por puro Amor e oblação sofreu morreu por todos nós? No meio de toda esta estupefacção diverti-me a ouvir os comentários de um grupo de espanhóis que comentavam o que viam. Palavras como “aberração”, “escândalo” eram frequentes. Como entretanto meti conversa com alguns deles eles perguntaram quem tinha tido uma tão triste ideia de representar Cristo daquela forma, ao qual eu lhes respondi que tinha sido, entre outros, o Bispo de Leiria-Fátima. Que triste é constatar que a Esposa de Cristo está cá pelo burgo em tão “más mãos”. Merecia melhor sorte do que as “famosas armas” do louco do Otelo, em 1975. É caso para dizer, “Perdoai-lhes, Senhor, apesar de saberem o que fazem!” Saí dali dizendo a mim mesmo que nunca mais lá voltarei (salvo algum imponderável) mas não lamentando lá ter ido.

10.4.08

Maio de 68

Comemora-se este ano os quarenta anos de um dos mais virulentos ataques à nossa Civilização, perpetrado por jovens universitários, fruto do “baby boom” do pós II guerra, e a quem os pais marcados pelo horror da guerra cumularam de mimos como forma de compensar essa mesma experiência. Como habitualmente este tipo de ataques é feito atacando a autoridade legítima, vista como um obstáculo à liberdade e à plena realização do homem. O problema é que quando esta falta se caminha inevitavelmente para a tirania ao transformar-se os seres humanos em monstros. É por isso que podemos afirmar que o Maio de 68 é a continuação, da Reforma do século XVI, do Iluminismo oitocentista que por sua vez inspirou a Revolução Francesa e que por sua vez vem a influenciar Hegel e daí Marx, tudo isto culminando no “maravilhoso” século XX e neste que estamos a iniciar que, por enquanto, nada de bom augura. As consequências desta tragédia estão hoje na ordem do dia a propósito do triste episódio do telemóvel na escola Carolina Michaëlis, isto tudo já para não falar dos casos mais graves de que ouvimos falar em escolas norte-americanas ou de outros países. Também no plano artístico as consequências desta “libertação” que resulta da ausência de todo e qualquer constrangimento se fazem sentir. Uma vez que o homem já não pretende representar a realidade que o cerca, e que de resto recusa, mas sim o seu estado de alma o que, tendo em conta todo o mal que habita a mente de um sujeito modernista, isto leva a que se produzam todas as aberrações que conhecemos, na música, na pintura, na escultura. Confesso que, tendo em conta a tendência inata do homem para se eximir de todo e qualquer tipo de regras, não vejo como é que nos tempos mais próximos será possível percorrer o caminho inverso daquele que temos vindo a percorrer. Qual será o preço para que encetemos tal caminhada?